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ENTREVISTA 

amanda quebrada

Fortaleza/ Ceará

Entrevista realizada em Março de 2025.

amandaquebrada é atriz, professora de teatro, preparadora de elenco produtora, graduada em Licenciatura plena em Teatro (Universidade Federal do Ceará). Experiência e pesquisa com infância e juventudes no teatro com iniciação teatral; jogos teatrais para cena; improvisação e encenação; teatros periféricos e formação de plateia para o teatro.

Uma pessoa negra com cabelos cacheados com tinta azul no corpo, usando vestido azul e falando ou cantando em um palco

como o teatro entrou na sua vida?

Quando criança, aos 8 e 9 anos acompanhava minha irmã mais velhas em todos os rolês, e um deles era o do grupo de teatro que ela fazia parte, nossa família era da igreja católica da CEBS e a maioria das pessoas que compunham o grupo, a partir daí me interessei nos momentos de feitura de figurinos (minha mãe que costurava) e também de ensaios, achava muito divertido, mas só quando eu entrei na adolescência esse grupo lançou uma chamada para um grupo experimental pois eles queriam pessoas novas para fazerem uma nova peça que falava sobre a história do nosso bairro, êxodo rural, pão e circo...então fiz parte do grupo experimental, se chamava G.E.N.T (GRUPO EXPERIMENTAL NÓIS DE TEATRO), um dia uma atriz precisou ser substituída e eu fui convidada, então ganhei o papel, isso nos anos 2008, 2009, daí em 2010 fui oficializada integrante do grupo, nessa "brincadeira" minha irmã saiu do grupo e estou até hoje fazendo parte do Nóis de Teatro :DDDD Fazem uns 16 anos.

Fale um pouco pra gente sobre sua trajetória no teatro até os dias atuais.

Minha base é rua, faço teatro desde sempre pois meu grupo se firmou rua pela precarização dos espaços que habitávamos, como não tínhamos o teatro físico, elaborávamos na rua e QUE BOM que isso aconteceu, depois de alguns anos fazendo parte desse grupo fiz ENEM e decidi que eu precisava ir pra uma licenciatura (isso pq aqui n tinha bacharel) foi aí que eu percebi que era da arte que eu viveria, que era só aquilo que poderia fazer por mim, ser atriz, e dizer isso para as pessoas sempre vinha carregada da segunda pergunta: "sim, mas vc trabalha de que?" e eu reafirmava: "sou atriz", "faço teatro", com o passar do tempo fui entendendo que precisava fazer ou entender de tudo, pois fazer teatro de grupo é sobre atuar e produzir, atuar e dirigir, atuar e fazer luz, atuar e vender os bilhetes, atuar e dar aulas, atuar e carregar e descarregar cenário. Na UFC fui conhecer o teatro, aprender a trabalhar palco e gostei, fiz algumas peças de palco, uma que adorava fazer era VAGABUNDOS um espetáculo de dança/teatro. Sempre conciliando o curso superior com o Nóis que consumia muito meu tempo, nessa época estávamos rodando com o espetáculo Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro pelo NE do Brasil, comunidades quilombolas e assentamentos de reforma agrária, interiores e capitais. Comecei a me jogar no cinema e despertar interesse pelo audiovisual, fiz participações em alguns filmes e em 2019 numa série da globoplay que se chama Meninas do Benfica (série rodada em Fortaleza, tendo na chefia sua maioria em mulheres), então continuo com meu grupo investigando a cena e dessa vez nos arriscamos no palco, pensando na circulação do espetáculo e nas possibilidades de sustentar o grupo, fizemos a peça DESTERRO que estou em cena junto de um amigo que é um dos fundadores do grupo. Na atualidade estamos com essa peça que é de 2023 e tenho dado aulas e formações a partir da minha experiência com teatros periféricos e juventudes.

O que você tem investigado ultimamente?

O público sempre me motiva a investigação, a preparação do ator e também os sons, tenho uma pesquisa de músicas feitas por mulheridades, no prazer feminino, principalmente sonoridades periféricas.

Uma pessoa com roupa extravagante se apresenta ao ar livre à noite, em frente a um edifício moderno iluminado, para uma multi

foto LUIZ ALVES

Durante sua trajetória no teatro você trabalhou com muitas sapatonas?

Com diversas, mas como sempre foquei no meu grupo, só quando entrei na universidade me encontrei com elas hahaha e continuo trabalhando hj com o bloco COLA VELCRO que é um grupo de lbtqiap+ aqui de Fortaleza, além do projeto MOLHADONAS que pesquisa sonoridades periféricas feitas por/para o prazer das mulheres.

Você já atuou/trabalhou em outras peças com temática sapatão? 

Ainda não fiz, mas tenho vontade. Fiz um que se chamava Ainda Vivas: três peças do Nóis de Teatro, eram três peças, a primeira se chamava AMOK, a segunda BURNOUT e a terceira ANAMNESE (É necessário conhecer “a peste” para poder controlá-la. E o poder segue criando suas estratégias de controle e dominação, ajustando-se aqui, adaptando-se ali para, como ratos na madrugada, adentrar à nossa casa para saquear nosso alimento, nossa potência. Nossa memória está refém dessas transformações: esquecemos facilmente nossa história em favor de um ideal de progresso. “Anamnese” nos lembra do corpo-festa, do corpo que desestabiliza a moral branca-héterocis-normativa que se instalou como moradia segura na nossa sociedade. De Stonewall à Divine, onde houver um ajuntamento periférico, haverá um grito que reverbera: Ainda vivas!) essa última falava sobre a história de uma boate que existiu em nossa cidade e todas as corpas que adentravam esse espaço, inclusive as sapatão, fala sobre o corpo festa e a celebração da nossa existência mesmo quando querem nos matar.

Na sua opinião, qual a importância de se afirmar sapatão, nas coisas cria?

 É básica, tudo parte daí, da minha identidade, do meu firmamento aqui, em tudo influencia e modifica.

Conta pra gente uma memória, uma história, uma situação

A primeira vez que apresentamos o espetáculo AINDA VIVAS e contracenei um beijão com minha amiga BI do meu grupo de teatro. Todos nossos amigos acham/supõe/ deduzem que somos namoradas e depois desse dia além de impactar todo o público na rua, veio a confirmação pra eles de que somos um casal. A gente dava muita risada e até hoje se diverte com isso.

"...tudo parte daí, da minha identidade, do meu firmamento aqui,
em tudo influencia e modifica..."
AMANDA QUEBRADA

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