ENTREVISTA
Rafa Jacomini
Diadema / São Paulo
Entrevista realizada em Março de 2025.
Sou Rafa Jacomini, tenho 23 anos. Me formei no Bacharelado em Artes Cênicas e pesquiso a lesbianidade na cena teatral de São Paulo desde 2021.
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como o teatro entrou na sua vida?
Comecei no teatro em 2015, ainda na escola. Desde então, nunca parei. Logo aos 18 anos, entrei no Bacharelado em Artes Cênicas na UNESP, onde pude expandir meu repertório artístico, conhecer artistas e desenvolver trabalhos teóricos também. Sempre fui apaixonada pelas artes num geral, mas me encantei pelo teatro e continuo me apaixonando por ele ainda hoje.
Fale um pouco pra gente sobre sua trajetória no teatro até os dias atuais.
Tenho contato com o teatro desde os 13 anos, quando comecei a entrar em cena ainda na escola. Depois, fui para o Bacharelado em Artes Cênicas na UNESP, que me abriu muitas portas. Ingressei no Coletivo Vinte20, que nasceu dentro da Universidade, como atriz e dramaturga. Também comecei a trabalhar com produção, captação de vídeo e fotografia no projeto de extensão Cena Feminista, que nasceu dentro da UNESP também, e que buscou estudar relações de identidade (como gênero, sexualidade e etc) com a cena teatral. Atualmente, tenho me preparado para iniciar um mestrado, além de atuar esporadicamente como produtora.
O que você tem investigado ultimamente?
Tenho me interessado na relação entre memória, conservação e a história lésbica dentro das artes cênicas. Com isso, busco entender quais são as relações possíveis de serem feitas com a visibilidade, a representatividade e a cena teatral, além de também sempre ressaltar a importância desses elementos para a estrutura e a sobrevivência da comunidade sáfica num geral.

Durante sua trajetória no teatro você trabalhou com muitas sapatonas?
Acredito que sim! Durante as minhas iniciações científicas, desenvolvidas dentro da UNESP, pude pesquisar o tema da lesbianidade na cena teatral a partir de diferentes perspectivas. Dessa forma, entrei em contato com diferentes grupos, artistas e referenciais teóricos, o que foi de extremo valor para mim. Conheci, por exemplo, a equipe por trás de Cavalos Pretos São Imensos, uma peça que considero extremamente potente para a cena lésbica atualmente. Além desta, puder conhecer Tem Alguém que nos Odeia, dramaturgia de Michelle Ferreira; o trabalho das pesquisadoras Meg Macedo, Camila Karla Grillo e outras que foram importantes no meu desenvolvimento de pesquisa.
Você já atuou/trabalhou em outras peças com temática sapatão?
Como atriz, somente preparei uma cena de Tem Alguém que nos Odeia para um trabalho da faculdade. Contudo, a partir do trabalho de todo o time da Cena Feminista, pude produzir dois podcasts para debater os trabalhos de algumas artistas sáficas, como o de Bárbara Esmênia e o de Luísa Caetano, com L, O Musical. Conseguimos também trazer Cavalos Pretos São Imensos para dentro da Universidade em 2024, como fechamento do Festival Mulheridades: Um Território para Nós Ano II.
Na sua opinião, qual a importância de se afirmar sapatão, nas coisas cria?
A importância no lugar da afirmação é primeiramente de gerar visibilidade ao discutir temáticas sapatonas. Isto nos coloca em lugar de afirmação de quem somos e possibilita que outras pessoas possam se sentir representadas. Também acredito no poder que a cena tem de gerar questionamentos, debates e desconstrução relacionados a discursos, ações e realidades que não acolhem as vidas da comunidade lésbica. Considero também essencial citar nesse contexto a possibilidade de construir redes de afeto, expandir comunidades e criar estruturas de apoio para que possamos não estar sozinhas dentro das nossas realidades.
Conta pra gente uma memória, uma história, uma situação
Uma memória que me marcou muito foi a de assistir Flores Brancas, da Cia do Flores. Este é um trabalho incrível, sensível e muito lindo. Me lembro de ver várias sapatonas na plateia, se emocionando, trocando afetos entre si e se sentindo representadas a partir daquilo que viram em cena. Foi um grande momento para mim.