ENTREVISTA
Moira Albuquerque
Paraná / Curitiba
Entrevista realizada em Março de 2025.
Moira Albuquerque é artista e diretora de produção, atuante desde 2006. Graduada em Licenciatura em Teatro (2012) na Faculdade de Artes do Paraná. Integrante da Minha Nossa Cia de Teatro desde 2011, com destaque para os espetáculo Temporada de Caça com direção de Vinicius de Souza (MG), em que recebeu indicação como Melhor Atriz no 40° Prêmio Troféu Gralha Azul e a peça foi indicada no 34° Prêmio Shell na categoria Destaque Nacional; Contadora de histórias da Cia Girolê desde 2012. Paralelamente e transversalmente ao trabalho com esses os grupos, desenvolve criações autorais em performance e dança.
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como o teatro entrou na sua vida?
Quando criança eu tinha dois sonhos: ser atriz ou jogadora de futebol. Mas entrei no teatro aos 14 anos, mesmo "tentando fugir" acabava sendo convidada para aulas ou peças amadoras. Aí não teve jeito, tive que assumir isso pra minha vida. Aos 20 anos tirei o DRT e entrei na faculdade de Licenciatura em Teatro, fiz vários trabalhos como atriz, me tornei também produtora para poder produzir meus trabalhos e acabei produzindo também projetos de varias linguagens, adentrei no universo da dança contemporânea e performance. Volta e meia tenho que me reafirmar atriz, sou mais feliz atuando que cuidando de planilhas.
Fale um pouco pra gente sobre sua trajetória no teatro até os dias atuais.
Minhas primeiras experiências profissionais foram com teatro pra criança, numa cia solidificada, para quem tava começando foi muito importante. Viver os treinamentos corporais e vocais diariamente, mas ao mesmo tempo vivenciar o autoritarismo e abusos emocionais traumatizantes. Depois entrei na Minha Nossa Cia de Teatro, da qual faço parte até hoje, uma cia de amigos que se conheceram na faculdade, que continua se reinventando de desejando fazer teatro em constante troca com outros artistas, de maneira não hierárquica. Paralelamente fiz parte da Cia dos Falsários que investigava Composição em Tempo Real e Teatro na Rua. Desenvolvi o projeto Entre Fios, de performances em site specific e comecei a contar histórias junto a Cia Girolê.
O que você tem investigado ultimamente?
Minha pesquisa como artista independente, que não é em coletivos, é sobre as animalidades no corpo feminino.

MIMOSA
FOTO: LIDIA UETA
Durante sua trajetória no teatro você trabalhou com muitas sapatonas?
Poucas
Você já atuou/trabalhou em outras peças com temática sapatão?
Fui cavar na memória. Uma das primeiras peças que fiz, tinha uma cena de três casais (hetero, gay e sapatão) com o mesmo texto com finais distintos, o único casal que ficava junto no final era das lésbicas, que eu fazia parte, e na época eu acreditava que era hetero.
Anos mais tarde fiz uma performance num evento que se chamava Sapataria no qual eu contava um tanto do meu processo, da minha primeira paixão por uma mulher, a repressão, questionamentos do que permiti a heteronormatividade fazer em mim, o tanto de tempo que levei para me libertar e a alegria de viver o amor sapatão.
Sinto que, por enquanto, não tenho impulsos de abordar a temática sapatão. Tenho investigado mais o corpo feminino na sociedade, a objetificação, os preconceitos com corpos fora do padrão, as violências.
Na sua opinião, qual a importância de se afirmar sapatão, nas coisas cria?
Como minhas criações ainda não abordam essa temática diretamente, não é uma questão para mim. Mas na minha existência no mundo é cada vez mais importante me afirmar sapatão, me sinto mais livre inclusive para criar.
Conta pra gente uma memória, uma história, uma situação
Em outubro de 2023 eu fiquei viúva, minha esposa faleceu de câncer, foram 3 anos que ficamos nessa batalha. Eu estava em luto e em novembro passei no meu primeiro teste para um curta de comédia romântica sapatão, ele ainda esta para estrear. Ter passado no teste foi como uma carinho a tudo que estava vivendo, e a personagem tinha um RG com data de nascimento no dia 14/10 dia que minha companheira faleceu.