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ENTREVISTA 

Juliana Pamplona

Rio de janeiro / Rio de Janeiro

Entrevista realizada em Março de 2025.

Diretora, dramaturga, roteirista e pesquisadora nos campos de teatro, performance e filme. Doutora em Artes Cênicas (UNIRIO) e professora no Bacharelado e Licenciatura em Teatro na Faculdade Cesgranrio (RJ).

pessoa branca loira óculos de aro fino e fones de ouvido sem fio pretos, usando uma blusa preta e mochila vinho, parece feliz

Fale um pouco pra gente sobre sua trajetória no teatro até os dias atuais.

Minha trajetória profissional no teatro está bastante ligada à minha formação na Universidade pública. A graduação em Teoria do Teatro na UNIRIO me abriu horizontes para pensar que tipo de teatro eu queria fazer e também foi nesse contexto que pude experimentar, pesquisar, praticar teatro de uma maneira mais híbrida, ligada a outras artes. Meu doutorado na UNIRIO foi sobre a dramaturgia da autora inglesa Sarah Kane, e como pesquisadora Pós-doc na UFRJ (2016 - 2018) desenvolvi a peça-ensaio Entra Ofélia sobre violências invisíveis (estruturais), escrita para um elenco majoritariamente queer, além de diversos laboratórios de escrita, teatro e performance arte, num dos quais criei a performance lésbica Interditas junto a artista Ludmila Castanheira. Em 2015, idealizei, dirigi e escrevi a peça “Domínio do escuro”, sobre idosos LGBTQ+ com o aporte do edital LGBT SEC/RJ (2015) e Edital Viva a Arte/RJ (2016). Ainda durante o doutoramento, fui contemplada com uma bolsa de pesquisadora visitante na NYU (departamento de Performance Arte, 2012) que foi um divisor de águas no sentido de ter tido contato com trabalhos muito interessantes de artistas queer e sapatonas, como a cia teatral Half Straddle. Foi também por conta desse deslocamento que fui assistente da cineasta Barbara Hammer no longa metragem “Welcome To This House” (2014) e, posteriormente, curadora da “Mostra Barbara Hammer: Um cinema experimental lésbico” (Caixa Cultural RJ, 2017). Entre 2018 e 2019 fui professora substituta no Departamento de Artes Cênicas da UFOP (MG), lá realizei os seguintes trabalhos com alunes ligados à arte sapatão: o grupo de estudos Conversas do Brejo (Karla Ribeiro, Theo Mantelato, Mayra Pietrantonio, Sheiq e eu), a Mostra Maria Sapatão (realização do Conversas do Brejo junto ao projeto de extensão Ninféias, em colaboração com a professora Nina Caetano) e dirigi a peça Panaceia. Dentre meus trabalhos mais recentes estão o curta-metragem “Kings” (2024), um documentário poético que acompanha um grupo identificado com a cultura sapa-cuir, que passa um dia experimentando como drag kings no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, e a Mostra Cine Caminhāo de cinema lésbico brasileiro contemporâneo (Cine Vila Rica, MG, 2023 e 2025).

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Peça “Domínio do escuro” - Arquivo pessoal de Juliana

Na sua opinião, qual a importância de se afirmar sapatão, nas coisas cria?

Como artista e professora, acho importante usar meus privilégios para dizer que a gente é possível nos espaços que ocupo. Não só nas coisas que crio, mas poder me dizer sapatão em espaços que não foram feitos para mim (o mundo do trabalho, a vida pública) é uma conquista que nunca está 100% ganha ou ganha para todes. 

Conta pra gente uma memória, uma história, uma situação

Vou contar um outro episódio que aconteceu durante o processo da peça Domínio do escuro, que pode nos interessar para pensar a história “L”. Foi muito mais difícil conseguir depoimentos de idosas lésbicas do que de idosos gays. Um dos motivos mais evidentes é que a maioria dos homens entrevistados haviam tido uma vida pública, mesmo quando "no armário", como profissionais realizados e, por conta de papéis de gênero mais marcados ainda naquela época, muitas das hoje idosas cumpriam funções de cuidados em suas famílias. Uma idosa de 72 anos que cuidava de sua mãe nos deu a seguinte resposta sobre gravar uma entrevista para a nossa peça: “Eu não posso falar. Não posso. Tenho uma mãe de 94 anos, ela não é lúcida. Mas vai que eu falo, ela fica lúcida e tem um troço?” Durante uma das temporadas que fizemos, tivemos a notícia de que essa senhora, que não podia falar enquanto a mãe fosse viva, veio a falecer antes da mãe.

"...Como artista e professora, acho importante usar meus privilégios para dizer que a gente é possível nos espaços que ocupo. Não só nas coisas que crio, mas poder me dizer sapatão em espaços que não foram feitos para mim..." Juliana Pamplona

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